quinta-feira, janeiro 26, 2006

O pai tirano


Nas últimas férias de Natal foi-me recomendado “O pai tirano”. Boa recomendação. Não queria chegar a Lisboa sem o ver, tal foi a descrição que me foi feita. Provavelmente, nas muitas vezes que passou na televisão durante a minha infância, mudei de canal. Como pude ser tão idiota?
O filme retrata os ensaios de um grupo de teatro amador dos Armazéns Grandela, numa época em que a ascensão do cinema parecia estar a dar cabo do teatro. Os ensaios do grupo amador misturam-se com a própria vida. Há aqui uma continuidade da tradição cristalizada por Calderón de la Barca, em El gran teatro del mundo. A invasão do teatro nas lides quotidianas dos funcionários e a invasão da vida no teatro, a verosimilhança dessa confusão torna o filme extremamente cómico. A vida é um palco e o palco é um lugar onde a vida se dá a ver. Sem dúvida. Este filme reforça a ideia de uma forma bem-humorada, desviando o olhar directo sobre a morte e a vaidade de todas as coisas, mas apresentando tudo isso de soslaio e com ironia. O guião é como uma partitura de Mozart, perfeito! Não há remake possível para este filme.
Nas férias requisitei o filme em suporte VHS, na Biblioteca de Ovar. O som de alguns diálogos iniciais era incompreensível. Hoje voltei a pegar no filme, agora na primeira versão DVD publicado pela TVGuia. O som ainda não é perfeito, talvez nem seja possível aperfeiçoar mais, mas os diálogos já se percebem na perfeição. Vale a pena revisitar este clássico do cinema português.