Da igreja para o laboratório

Este fim-de-semana passei algum tempo a falar de ciência com uma especialista em bioquímica. Foi muito agradável porque durante a conversa cruzavam-se informações de diferentes proveniências nos meus registos mentais.
Construiu-se um imaginário em torno da ciência. Curiosamente esse imaginário recolhe muito mais da religião do que se possa pensar. A utilização de batas brancas e puras do cientista, a crença de que a verdade científica está acima de outras verdades, o lugar que lhe é dado nos tribunais e o modo como aparece nos filmes tende a herdar formas de representação social próprias da religião.
A ciência diz a verdade. O cientista dita o objecto da crença. Na religião o sacerdote, as preces e as orações são chamadas a interferir com a realidade, a resolver problemas políticos, a curar os males da alma e do corpo. No imaginário científico estes mesmos males são resolvidos pelo politólogo, pelo sociólogo, o psicólogo, o médico e o cirurgião entre outros.
Mas a ciência não é só o que acontece dentro de um laboratório. É também o mercado que o envolve, a lucratividade da investigação, o dinheiro investido num paradigma científico, a qualidade do café e o aspecto dos bolos servidos num congresso científico.
Lorenzo’s Oil é um filme baseado numa histórica verídica que refere o modo como o mundo da política, da ciência e da farmacêutica determinam a vida de um indivíduo. É um bom filme para desmontar o imaginário construído em torno da ciência.