sábado, abril 08, 2006

Douta ignorância


"O que reparo e parece trabalho supérfluo, é que um homem tão sábio se aplique a estudar e saber os erros e as ignorâncias (…). Os erros e as ignorâncias, é certo que são muitos mais do que as ciências, porque para saber e acertar, não há mais do que um caminho, e para errar, infinitos. Mas esses mesmos caminhos errados e de errar, esses mesmos erros e ignorâncias, para que as estuda e quer saber Salomão? Não lhe bastavam as ciências e tão consumadas ciências? Não. Porque a Salomão fê-lo Deus o maior Doutor da Igreja antiga: e não só lhe era necessário saber as ciências, senão também os erros e as ignorâncias: as ciências para ensinar a saber, os erros para ensinar a não errar: as ciências para as provar e estabelecer, os erros para os refutar e confundir. E isto é o que Salomão fez em todo aquele admirável livro, o qual intitulou Eclesiastes, que quer dizer – o Doutor.

Padre António Vieira, Sermões; Lello & Irmão Editores, Porto, 1959. Vol. VIII, Sermão de S. Agostinho, IX, pp. 208-209.
Ao longo da história da humanidade foram procuradas e indicadas várias fontes de todos os males. A ignorância será sempre e indiscutivelmente uma das candidatas ao título de "origem de todos os males". Talvez seja mesmo a causa. Hoje, porém, não tomei café suficiente para justificar capazmente o porquê deste possível título - também já não há absinto... Fiquemo-nos pelo texto de Padre António Vieira.