terça-feira, abril 04, 2006

V de vingança


O filme conta com o trabalho dos irmãos Andy e Larry Wachowski ("Matrix") e essa marca é reconhecível em vários aspectos. Sobretudo nos diálogos e no modo como são abordados os temas. Faz-se sentir em ambos os filmes uma forte presença da filosofia. Em Matrix na relação entre o humano e a realidade, em ambos os problemas políticos existentes entre a liberdade e a identidade humana.
O “V de vingança” resulta de um cruzamento de uma distopia com uma história de vingança. Um governo totalitarista consegue chegar ao poder por intermédio do medo. Após proceder a experiências secretas em armas bioquímicas, um grupo de políticos e biólogos propaga um vírus mortal pelas condutas de abastecimento de água. Morrem milhares de pessoas. Do medo daí resultante, com o lucro dos antídotos utilizados para combater o flagelo esse grupo atinge e estabelece um poder totalitário.
É possível encontrar neste filme uma gestão do poder que passa em grande parte pela relação “ver” e “ser visto” de que se falou anteriormente neste blogue a partir de El gran mercado del mundo de Calderón de la Barca. Com analogias a 1984 de George Orwell, ao Big Brother, à manipulação política pela recolha de informação (“ver”) e propaganda informativa (“ser visto”), o poder instalado domina a vida política da Inglaterra de 2020.
V é a personagem que vai lutar contra o regime. Durante as experiências de criação do vírus mais tarde usado para espalhar o terror, V foi submetido a experiências e conseguiu sobreviver, ainda que tendo perdido a sua memória. Adquire uma segunda personalidade, cobre-se com a máscara de Guy Fawkes, um homem que em 5 de Novembro de 1605 procurou fazer explodir o parlamento inglês, detido e enforcado.
A situação de V deixa espaço a várias citações ao O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas. V é um vingador inteligente, culto e metódico determinado a derrubar o regime totalitário como quem deita por terra uma longa sucessão de peças de dominó.