Do Mar Grande e D’outras Águas
Ao final da tarde de 24 de Março, no Bairro Alto em Lisboa foi lançada a antologia poética “Do Mar Grande e D’outras Águas”.
A antologia reúne poemas com referências ao mar de Aurélia Jorge Antunes, Carmen Zita Ferreira, Cecília Barreira, Susana Júlio e Victor Gama do Rosário.
A apresentação do livro foi feita por Victor Rosário. Seguidamente os autores e o público puderam ler e ouvir poemas. A palavra circulou em versos ondulantes que recordavam maresia. Por momentos, até Cecília Barreira, que sofria de afonia temporária, conseguiu encontrar a voz e recitar.
Entre os poemas ditos houve também espaço para os poemas cantados. Luís Galvão à guitarra e as irmãs Sónia e Céu cantaram músicas com mar. Ouviu-se o Restolho de Mafalda Veiga, O homem do leme dos Xutos. A interpretação de Lágrima foi comovente, numa voz ampla e funda.
Por fim, o convívio. Do convívio surgiu uma personagem notável, o senhor José Henriques. Teve uma daquelas vidas que dava um filme. De sacristão passou a arrumador no teatro. Vindo de uma igreja onde se viam santas de pau oco, acabou num camarim a ver Brigitte Bardot, em carne e osso, “só com umas cuequinhas”. As aventuras foram mais do que muitas e não poderiam ser contadas todas aqui. Agora, já na reforma, o senhor Henriques dedica-se ao teatro amador. Frequenta também uma instituição indiana de altos valores defensora de que só interessa cultivar forças positivas.
Com tudo isto o momento passou, mas a palavra permanecerá aí, pronta a viver de cada vez que alguém a ler com olhos de ver. E por que não aproveitar a ocasião para deixar aqui um poema da Carmen Zita?
Noite clara
Há um carreiro naquele campo de aveia
por onde passou o meu espírito esta noite.
Houve pegadas de meus pés na areia
muito tempo antes de eu ter perdido o Norte.
Nesse campo dancei e morri de cansaço,
e do trigo fiz meu leito lunar.
Onde dormi nasceu um rio, como um braço
que se estendia ao solitário mar.
O claro carreiro desse campo de aveia
Permanece vivo, para meu espírito voltar.
Risco com meus dedos na areia
enquanto não chega com indiferença o mar,
que passo, perco-me e volto com uma só ideia:
Pela razão da nossa vida, vale a pena lutar.
A antologia reúne poemas com referências ao mar de Aurélia Jorge Antunes, Carmen Zita Ferreira, Cecília Barreira, Susana Júlio e Victor Gama do Rosário.
A apresentação do livro foi feita por Victor Rosário. Seguidamente os autores e o público puderam ler e ouvir poemas. A palavra circulou em versos ondulantes que recordavam maresia. Por momentos, até Cecília Barreira, que sofria de afonia temporária, conseguiu encontrar a voz e recitar.
Entre os poemas ditos houve também espaço para os poemas cantados. Luís Galvão à guitarra e as irmãs Sónia e Céu cantaram músicas com mar. Ouviu-se o Restolho de Mafalda Veiga, O homem do leme dos Xutos. A interpretação de Lágrima foi comovente, numa voz ampla e funda.
Por fim, o convívio. Do convívio surgiu uma personagem notável, o senhor José Henriques. Teve uma daquelas vidas que dava um filme. De sacristão passou a arrumador no teatro. Vindo de uma igreja onde se viam santas de pau oco, acabou num camarim a ver Brigitte Bardot, em carne e osso, “só com umas cuequinhas”. As aventuras foram mais do que muitas e não poderiam ser contadas todas aqui. Agora, já na reforma, o senhor Henriques dedica-se ao teatro amador. Frequenta também uma instituição indiana de altos valores defensora de que só interessa cultivar forças positivas.
Com tudo isto o momento passou, mas a palavra permanecerá aí, pronta a viver de cada vez que alguém a ler com olhos de ver. E por que não aproveitar a ocasião para deixar aqui um poema da Carmen Zita?
Noite clara
Há um carreiro naquele campo de aveia
por onde passou o meu espírito esta noite.
Houve pegadas de meus pés na areia
muito tempo antes de eu ter perdido o Norte.
Nesse campo dancei e morri de cansaço,
e do trigo fiz meu leito lunar.
Onde dormi nasceu um rio, como um braço
que se estendia ao solitário mar.
O claro carreiro desse campo de aveia
Permanece vivo, para meu espírito voltar.
Risco com meus dedos na areia
enquanto não chega com indiferença o mar,
que passo, perco-me e volto com uma só ideia:
Pela razão da nossa vida, vale a pena lutar.
3 Comentários:
A tua presença foi fundamental... O teu olhar é precioso, quase tanto como a (as outras) água(s).
Obrigada pela tua presença e pela tua visão daquele fim-de-tarde. Até breve, Wilson!
Porque o olhar de cada um vale pelo que vê sempre de diferente no aparente "igual".
O convívio foi, realmente, o "ponto alto" no Bar Souk...engraçado como as palavras conseguem gerar momentos de partilha e conhecimento de novas pessoas e de novas situações, partindo de um gosto comum.
Faço minhas as palvras da Carmen: Obrigado por estares lá.
: )
Obrigado pelas palavras e pelo olhar; pelos olhares. As outras águas são isso mesmo,a leitura de todos e de cada um dos momentos que vão fazendo o(s) nosso(s) quotidianos. Valeu Wilson!!!
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